Investidor Anjo: saiba o que é e como pode ser útil para o seu negócio.

Investidor Anjo: saiba o que é e como pode ser útil para o seu negócio.

Muitas vezes, boas ideias não saem do papel por falta de investimento. Outras vezes, empresas com grande potencial não conseguem crescer no mercado por não conseguirem fortalecer o produto ou serviço ou fazer com que eles cheguem a muitos clientes. 

Por isso, para fortalecer o mercado, torná-lo mais atrativo e competitivo, é fundamental contar com investimentos financeiros feitos por diversos atores como bancos, fundos de investimento, venture capital ou os investidores anjos, figuras que estão se fortalecendo cada dia mais no mundo empresarial. 

Preparamos esse conteúdo para você entender como funciona o investimento anjo e como ele pode ser útil para o seu negócio.

O que é um investidor anjo?

O surgimento do investidor anjo nos faz retornar à década de 20 nos Estados Unidos, na grande avenida Broadway, em Nova Iorque. 

Naquela época, para viabilizar a realização de grandes peças teatrais, empresários milionários investiam dinheiro e assumiam os riscos da produção dos espetáculos, recebendo por eles uma participação nos lucros. Esses empresários passaram a ser chamados de “anjos”, vindo daí a expressão “investidor anjo”. 

Essa figura evoluiu com o passar dos anos e mais tarde tornou-se muito presente no mundo do empreendedorismo, principalmente no Vale do Silício, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, onde estão concentradas grandes empresas de alta tecnologia, sendo considerado um polo do empreendedorismo.

Desde o seu advento, a figura do investidor anjo está ligada à inovação, tecnologia e investimentos de alto risco. O investidor anjo é uma pessoa física com alta renda, uma pessoa jurídica ou um fundo de investimento, conforme regulamento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que investe capital financeiro, fazendo um grande aporte de dinheiro, em uma microempresa ou uma empresa de pequeno porte com grande potencial. O investidor anjo pode atuar sozinho ou em um grupo de investidores anjos.

Além de injetarem um capital alto em determinada empresa, oferecem também a experiência e o conhecimento em negócios. Grandes e famosas empresas contaram com um “empurrãozinho” de um investidor anjo, como é o caso da Apple. 

Steve Jobs é a “cara” da Apple, mas para a empresa chegar a ser uma das maiores multinacionais do ramo de eletrônicos e softwares, foi necessário contar com o investimento de Mike Markkula, sócio minoritário da Apple que fez o primeiro aporte de capital na empresa, além de ter contribuído, por mais de 20 anos, com sua expertise adquirida anteriormente como gerente da Intel, grande nome no ramo da tecnologia desde a década de 60.

O termo “anjo”, é utilizado, portanto, por ser a figura de uma pessoa que, de fato, ajuda o negócio a crescer, sendo de enorme importância para a empresa, contribuindo não só financeiramente, mas com conhecimento e experiência que podem alavancar o negócio.

Quais as atividades de um investidor anjo dentro da empresa?

É importante destacar que o investidor anjo não é sócio da empresa e não possui atividades executivas no dia a dia do negócio em que é feito o investimento. Ao realizar o aporte financeiro, o investidor anjo será remunerado de acordo com o seu contrato de participação, podendo, em alguns casos, compor o conselho executivo da empresa.

A Lei Complementar nº 155/2016 foi a primeira lei a regular o investimento anjo. De acordo com essa lei, em seu art. 61-A, no parágrafo 4º, o investidor-anjo não será considerado sócio nem terá qualquer direito a gerência ou voto na administração da empresa; não responderá por qualquer dívida da empresa, inclusive em recuperação judicial e será remunerado por seus aportes, nos termos do contrato de participação, pelo prazo máximo de cinco anos. 

No mesmo sentido, a Lei Complementar nº 182/2021, conhecida como Marco Legal das Startups, ratificou, em seu artigo 2º, as obrigações e características do investidor anjo.

Qual a importância do investidor anjo para as empresas?

A figura do investidor anjo é fundamental para que empresas, principalmente startups, possam crescer e se tornar competitivas e sustentáveis no mercado. O investidor anjo geralmente aplica seu capital em empresas que apresentam um produto inovador, mas que também possuem um negócio de grande risco, ou seja, podem não dar o retorno esperado e ir à falência.

Muitas vezes, para que essas empresas cresçam e consigam fortalecer seu produto no mercado é necessário um aporte financeiro grande. Nesse momento entra em ação a figura do investidor anjo. Porém, o investidor anjo não auxilia apenas financeiramente, auxilia também investindo tempo, conhecimento, ajudando com networking e ao posicionamento da marca no mercado.

Geralmente, investidores anjos são empreendedores, pessoas que já foram CEOs de empresas ou criaram sua própria startup, podendo somar muito know-how a um negócio iniciante. Mas não se engane, o investidor anjo não é um filantropo ou uma pessoa apenas de bom coração. É uma pessoa com visão de mercado, de finanças, que busca oportunidade e entende as dificuldades de alavancar um negócio.

Dessa forma, o investimento anjo é importante não apenas para as empresas, mas para os próprios investidores e para a própria sociedade. O investimento anjo pode ser um fator crítico para o crescimento econômico de um país. 

Pode ser também fundamental para trazer à sociedade empresas que oferecem produtos com potencial de revolucionar e facilitar a vida das pessoas, como a Apple, o Google, a Uber, o Airbnb, entre outras.

Quais tipos de empresa procuram um investidor anjo? 

Nos termos do artigo 61-A da Lei Complementar nº 155/2016, para incentivar as atividades de inovação e os investimentos produtivos, a sociedade enquadrada como microempresa ou empresa de pequeno porte, poderá admitir o aporte de capital, que não integrará o capital social da empresa. Ou seja, podem ser alvo de investidores anjos as microempresas e as empresas de pequeno porte.

Por isso, é importante ter em mente a definição desses tipos de sociedade. De acordo com o artigo 3º da Lei Complementar nº 123/2006, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário (quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços).

No caso da microempresa a receita bruta deve ser igual ou inferior a R$360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) em cada ano-calendário. Já no caso de empresa de pequeno porte, a receita bruta deve ser superior a R$360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais).

Nesse sentido, as empresas alvos dos investidores anjo são, principalmente, startups. As startups são empresas que investem em um produto inovador, possuem um modelo de negócio escalável, mas de alto risco. Muitas empresas hoje consideradas unicórnios (empresas avaliadas em 1 bilhão de dólares antes de abrir seu capital em bolsas de valores), como as já citadas Airbnb, Uber e Google, receberam aporte de capital de um investidor anjo. 

No Brasil, temos empresas como o site de busca de produtos e promoções, Buscapé; a Gympass, plataforma corporativa de atividade física que reúne milhares de academias, que também receberam um investimento anjo que alavancou o negócio.

Principais investidores anjos do Brasil atualmente

A atividade de buscar negócios rentáveis e investir neles é milenar. Nos Estados Unidos, a presença de investidores anjos no mercado empresarial é comum desde a década de 60. 

Já no Brasil, essa atividade começou a ser amplamente difundida no final da década de 90 e início dos anos 2000. Atualmente, com o advento de novas startups e o crescimento acelerado de startups já consolidadas, a atividade do investidor anjo tornou-se uma realidade para a economia brasileira.

Para viabilizar cada vez mais investimentos e apostar alto em produtos e empresas inovadoras, pode-se encontrar, hoje, no Brasil, grupos que apoiam empreendedores de diferentes formas, como o “Anjos do Brasil”, organização sem fins lucrativos (ONG) voltada para o fomento do empreendedorismo por meio da promoção de conhecimento, networking e conexão de novos empreendedores a investidores anjos;  e o “Curitiba Angels”, um grupo que congrega profissionais e investidores anjos com ampla experiência de mercado a fim de apoiar empresas com potencial para criar novos setores e segmentos.

A cada ano o número de investidores anjos no Brasil cresce. Embora tenha estagnado em 2020, com a pandemia de Covid-19, em 2021 o número voltou a crescer. De acordo com pesquisa realizada anualmente pelo grupo Anjos do Brasil, em 2021 houve um crescimento de 76% (setenta e seis por cento) em relação ao ano de 2020, quando foram investidos R$45,2 milhões (quarenta e cinco milhões e duzentos mil reais). 

O número de investidores anjo seguiu o crescimento do volume de investimentos. Segundo a Anjos do Brasil, 344 (trezentos e quarenta e quatro) startups foram investidas desde a criação das redes que, hoje, contam com 2.560 (dois mil quinhentos e sessenta) investidores e um crescimento de 29% (vinte e nove por cento) no número de investidores em relação a 2020.

Entre os setores preferidos dos investidores anjos estão o setor financeiro, com a participação das fintechs, bancos digitais e serviços de meios de pagamentos; as startups com operações ligadas ao agronegócio e as startups de varejo e logística.

Muitos dos grandes investidores anjos do Brasil foram fundadores e/ou CEO de suas próprias startups, como: Romero Rodrigues, fundador do site Buscapé; e Julio Vasconcellos, co-fundador do Peixe Urbano.

Como conseguir um investidor anjo? 

Antes de iniciar a busca por um investidor anjo, a microempresa ou empresa de pequeno porte deve conhecer bem o mercado, seu ramo de atuação, seu produto e seus concorrentes. É fundamental fazer um networking consistente, um plano de negócios, uma projeção financeira e orçamentária e um estudo sobre potenciais clientes. 

Muitos desses passos são tomados antes mesmo de abrir a empresa e colocá-la em ação. A estruturação do negócio é o primeiro passo  para ir em busca de um potencial investidor anjo. O próximo passo é mostrar para o seu investidor que o seu produto ou serviço funciona. Por isso, muitas vezes, é importante ter um protótipo ou um período de teste, para comprovar  que o produto ou serviço possui viabilidade e eficácia, não sendo apenas uma ideia ou um plano bonito no papel.

Onde encontrar um investidor anjo? 

Mas, ainda assim, onde encontrar um investidor anjo? Os empreendedores iniciantes devem criar o hábito de participar de eventos, seminários e feiras de empreendedorismo, para fortalecer a rede de contatos e fazer “pitches” (apresentações) diretas para os investidores anjos. Nesses eventos, inclusive, é comum existir painéis de trocas de experiências, onde é possível fazer pitch diretamente aos investidores. 

Além dos eventos no ramo do empreendedorismo, os grupos e redes de profissionais também podem ser uma excelente porta de entrada para conseguir um investimento anjo, bem como as associações de startups, como a ABStartups – Associação Brasileira de Startups.

Em que momento o investidor entra em cena?

Após descobrir onde procurar um investidor anjo, é preciso entender qual o momento em que ele entra em cena. É necessário que o negócio já esteja estruturado. Geralmente, as startups buscam por um investidor anjo no primeiro ou no segundo ano de atividade, quando o negócio já deixou de ser apenas uma ideia e iniciou suas atividades.

No momento em que o investidor anjo entrar em cena é fundamental que o produto ou serviço já esteja atingindo clientes reais e que a empresa tenha métricas para mostrar aos investidores o potencial e a escalabilidade do negócio. De acordo com o grupo Anjos do Brasil, é comum que startups com faturamento menor que R$1 milhão (um milhão de reais) por ano busquem por investidores anjos.

Contrato de investidor anjo

O contrato de investidor anjo é chamado de contrato de participação. Neste contrato estão definidas as regras que regem o investimento anjo. O contrato deve deixar claro que o investidor anjo não é sócio da empresa, bem como deve constar algumas cláusulas essenciais, como o prazo do mesmo, que não poderá ultrapassar o limite de 07 (sete), após a realização do aporte financeiro.

Deve estar assegurado no contrato que os pagamentos ao investidor anjo não podem ultrapassar o valor investido, devidamente corrigido. Um cláusula de suma importância estabelecida no contrato de participação diz respeito ao direito de preferência, ou seja, caso os sócios decidam pela venda da empresa, o investidor-anjo terá direito de preferência na aquisição, bem como direito de venda conjunta da titularidade do aporte de capital, nos mesmos termos e condições que forem ofertados aos sócios regulares.” .

Regulamentação do contrato

O contrato de participação é regulamentado pela Lei Complementar nº 155, de 27 de outubro de 2016, nos artigos 61-A a 61-D.

De acordo com o artigo 61-A, parágrafo primeiro, “as finalidades de fomento à inovação e investimentos produtivos deverão constar do contrato de participação, com vigência não superior a sete anos.”.

O investidor anjo tem a função crucial no mercado de alavancar startups em estágio inicial, mas também a difícil tarefa de descobrir qual startup tem chances de dar certo no futuro. 

Por isso, para ser um investidor anjo é preciso experiência, expertise, muito conhecimento de mercado, negócios, gestão e relacionamento com clientes. Para os amantes do empreendedorismo e das startups, conseguir um investidor anjo pode ser um grande marco e diferencial para alavancar o seu negócio.

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